quarta-feira, 30 de julho de 2014



Resolvi então que escreveria um erótico. O Erotismo sempre vende bem, seja na livraria virtual ou naquelas medonhas publicações de banca. Sento-me à máquina e contemplo minha mesa, velha e descascando o verniz. Minha mesa sofre com cupins e percebo um rastro de poeira que desce aos seus pés. O apartamento todo se confunde à poeira, se confunde a mim mesmo que me confundo com a poeira. Ao leito de minha cama há um criado-mudo, e eu, mudo, decido mudá-lo de lugar. Levanto-me trôpego, caminho ao leito e deito a beira do criado-mudo. Há nele uma garrafa vazia da qual não me lembro de ter bebido, mas de verto que bebi e não o recordo como não recordo mais o vivo e tão somente o que vivi. Deitado não produzirei nada, levanto-me e me miro no espelho, não me recordava de ter tão longa barba, de ter tantas rugas. Sou um profissional, preciso de algo que pague por esse apartamento. Decido então escrever um erótico. O Erotismo sempre vende bem.

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