quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Céu Plúmbeo.


Acordei, a cabeça dói.
Sinto um gosto acre, minha língua parece papelão, mal cabe em minha boca.
O corpo também dói, tem um hematoma no meu braço esquerdo e um olho roxo em minha face.
O céu está plúmbeo, faixas de luz pontilham a cortina de nuvens, posso ouvir o trovão.
Tenho de ir trabalhar. Não creio que tenha dormido embora saiba que tenha acordado.
O estômago ronca talvez um pouco de água amenize a fome até que eu possa chegar à padaria logo ali na esquina. A água está cortada. Não posso tomar banho. Reparo que comecei a feder.
Tomei banho ontem, ou teria sido ante ontem?
Foi no dia antes de eu dormir, de fato eu dormi.
Tenho de ir trabalhar. A faixa de luz feriu o céu, ele começou a chorar grossas lágrimas de chuva, faz um ano que já não tenho carro.
A gasolina estava cara, a gasolina está sempre cara isso não é uma desculpa.
Posso andar até o trabalho, hoje é domingo, não corre ônibus na cidade mais. Meia hora e eu chego lá, mas vou feder.
Não que eu me preocupe em incomodar alguém, porém o cheiro azedo do corpo começa de fato a me incomodar, ainda não tem água, vou até o vizinho pedir um balde de água, a falta é no condomínio todo.
As paredes do prédio são finas, o prédio é barato, ouço a pobre velha que não tem ninguém do apartamento ao lado conversar com um pardal.
Tenho de ir trabalhar, ela não.
A chuva aumenta talvez a água da chuva lave o cheiro azedo de meu corpo, não faz mal trabalhar ensopado, ninguém me repara no terno, nem mesmo no casamento, nem mesmo no divórcio.
Tenho de ir trabalhar, não vale a pena trocar a roupa já que estou fedendo, ponho o somente o paletó por cima da camisa, dormi de sapatos, menos mal. Pego a capa amarela, vou enfrentar o céu de chumbo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Todo Carnaval Tem Seu Fim

Los Hermanos


Todo dia um ninguém josé acorda já deitado

Todo dia ainda de pé o zé dorme acordadoA

Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia

Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado

De que o dia insiste em nascer

Mas o dia insiste em nascer

Pra ver deitar o novo


Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada

Toda Bossa é nova e você não liga se é usada

Todo o carnaval tem seu fim

Todo o carnaval tem seu fim

E é o fim, e é o fim


Deixa eu brincar de ser feliz,

Deixa eu pintar o meu nariz


Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco

Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco

Toda escolha é feita por quem acorda já deitado

Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado

E pinta o estandarte de azul

E põe suas estrelas no azul

Pra que mudar?


Deixa eu brincar de ser feliz,

Deixa eu pintar o meu nariz

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Flamboyants


 Um trechinho do livro que tento escrever enquanto o blog fica nesse gap forçado, to a sete meses sem net, prometo voltar assim que puder.

E os flamboyants se fundiram aos seus lábios carmins que se fundiram aos meus lábios que empalideceram. Meu sangue fugiu. Inda não sei pra onde.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Contradigo

Contradigo-me te contradizendo.
Se não gostas de música, canto.
Não gostas de calor, faço sol
Se sou teu sol, escureço.

Se te importas, sumo.
Não te importas apareço.
Sou tua vida, morro um pouco.
Mas se tu morres, morro completamente.

Se me queres me afasto.
Se me amas, me perco no asfalto.
A muito reclamas, a muito erro.
Odeias-me, esparramo em tua vida

Cada dia, cada hora,
A cada nova aurora
Um pouco mais de mim
  Mais de ti
                         completo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Você diz.


Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama.


Shakespeare.

Nevermore



Brilha a lua na morte certa
Serena morte condenada vil
Gralha o corvo na lápide branca
Da pedra da lua

O mármore branco reluz
Na luzidia luz da brilhante lua branca reluzente
Cuja luz no mármore branco reluz

O corvo no mármore gralha o corvo
Sempre sendo curvado pelo vento norte-sul
A branca noite foge do escuro dia
Resta o mármore, nada mais, nunca mais.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Não Posso Falar Sobre Ele.







Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes. 
Vejo todo esse potencial desperdiçado. 
A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. 
Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis. 
Somos uma geração sem peso na história. 
Sem propósito ou lugar. 
Nós não temos uma Guerra Mundial. 
Nós não temos uma Grande Depressão. 
Nossa Guerra é a espiritual. 
Nossa Depressão, são nossas vidas. 
Fomos criados através da tv para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock. 
Mas não somos. 
Aos poucos tomamos consciência do fato. 
E estamos muito, muito putos. 

Você não é o seu emprego. 
Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. 
Nem o carro que dirige. 
Nem o que tem dentro da sua carteira. 
Nem a porra do uniforme que veste. 
Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção. 

Nós não somos especiais. 
Nós não somos uma beleza única. 
Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo.