Quando criança lhe fiz um acróstico, E
Teu nome dançava
Em sete palavras belas e
simples. No papel.
Fiz teu mapa astral,
Teu horóscopo e
Vi que meu sol casava
com teu signo
De tal forma sigo
Acreditando que
Teu acróstico e teu signo
Teu sol, teu nome
Ponha-nos no mesmo caminho
que por ora se esconde
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Resolvi então que escreveria um erótico. O Erotismo sempre
vende bem, seja na livraria virtual ou naquelas medonhas publicações de banca.
Sento-me à máquina e contemplo minha mesa, velha e descascando o verniz. Minha
mesa sofre com cupins e percebo um rastro de poeira que desce aos seus pés. O
apartamento todo se confunde à poeira, se confunde a mim mesmo que me confundo
com a poeira. Ao leito de minha cama há um criado-mudo, e eu, mudo, decido
mudá-lo de lugar. Levanto-me trôpego, caminho ao leito e deito a beira do
criado-mudo. Há nele uma garrafa vazia da qual não me lembro de ter bebido, mas
de verto que bebi e não o recordo como não recordo mais o vivo e tão somente o
que vivi. Deitado não produzirei nada, levanto-me e me miro no espelho, não me
recordava de ter tão longa barba, de ter tantas rugas. Sou um profissional,
preciso de algo que pague por esse apartamento. Decido então escrever um erótico.
O Erotismo sempre vende bem.
terça-feira, 17 de junho de 2014
Vestido.
Quero rasgar teu vestido de chita. Nunca mais em minha vida
hei de olhar aquelas flores estampadas com tuas curvas.
Quero me embriagar com teu perfume barato, quero sentir teu
cheiro de morte.
Quero ver teus olhos e lágrimas, quero teu riso de
desesperança, teu choro de confinamento.
Quero mais que tudo você quebrada, frágil.
Como hoje me deixou.
domingo, 25 de maio de 2014
Memento Mori
Pensava que o suficiente era a margem ideal das coisas. Se me perguntado
o que achava dos ladrões que tinham suas mãos decepadas no oriente médio eu
lhes diria que aquilo era um exagero, bastava que lhes decepassem os dedos. Era
suficiente, diminuiria o sangramento.
Em tudo tanto que fiz, procurei assim ser: tinha suficientes amigos e suficientes
obrigações, lia suficientes livros e conhecia suficientes músicas.
Subconscientes desperdícios.
Tinha
15 anos, duas calças e um par de tênis quando a vi parada na pilastra do pátio.
Olhos quietos e castanhos, tez alva. Pensei em lhe dizer suficientes palavras e
talvez conseguir uma suficiente atenção, mas pela primeira de muitas vezes eu
não pude e pela primeira de muitas vezes senti-me perdido.
Já se foi muita água. Penso nas corredeiras de um rio enquanto lambem as
pedras sem nunca realmente encostarem-se a elas – há sempre o limo e abaixo do
limo há a pedra. Sinto-me assim passando pela vida sem realmente encostar-me à
vida.
Memento mori, e isso não me é mais suficiente. Nunca haverei de ser
suficiente. Nunca haverei de gozar a mim mesmo essa vida. Levanto-me e abro a
janela ao sol do meio dia, sol sem sombras e sem alívio. Memento mori, et carpe
diem.
Levanto-me antes de Apolo, perco-me no chuveiro em meio à água, sinto a
vida fluir e se dissipar a meu redor. O Café não me acorda mais, sou pouco mais
que uma engrenagem que sabe o que fazer, mas desconhece o fim proporcional das
coisas. Sinto-me só em meio ao ônibus lotado e nem mesmo a velha do meu lado me
faz sentir mais vivo. Memento mori, talvez seja a última coisa que ela precisa
se lembrar. Carpe diem e talvez seja a
única coisa que resta a nós dois.
Existem dois urubus que vivem na janela de minha sala. Vejo-os e eles
parecem sussurrar para mim: Memento mori, estávamos aqui antes de você e
estaremos até que seus ossos e ossos de seus filhos sejam pó. Tenho pena deles.
Há genialidade no sofrimento e razão no caos. Somos todos feitos pelo
caos e passamos pela vida em busca de ordem. Quase tangenciamos a ordem e nos
arrastamos novamente para dentro de nós mesmos. No caos nós acreditamos.
É noite, já se foram a lua e as plêiades.
Aqui estou a me sussurrar: memento mori. E isso não é mais suficiente.
sexta-feira, 7 de março de 2014
domingo, 27 de outubro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
Retratos Urbanos
Pense no centro de uma cidade de médio porte qualquer, com
seus edifícios de pedra cinzenta sujos pela fuligem de seus automotores,
concretize agora uma rua estrita com calçadas disformes e imundas.
Chove. Pequenas
Lâminas de água de um milímetro de profundidade se acumulam na calçada. Um
homem de terno preto e gravata azul anda apressado enquanto protege sua já
denunciada calvície com um jornal do dia, caderno de empregos. Fuma um cigarro
barato.
Fumar na chuva
enquanto anda não é uma tarefa que lhe apeteça, deliberadamente ele joga o
cigarro em uma das pequenas poças, o filtro bate em uma parte seca e cai de
forma inclinada em cima de uma tampa de cerveja esquecida por ali, de modo que
o filtro se molha, mas a ponta continua incandescente. O homem se afasta. Uma
sirene é ouvida a distância.
Um garoto de rua
ainda pré–pubere desponta na esquina,
havia a pouco roubado a bolsa que jazia despreocupadamente ao lado de uma
mulher que comia algo nas mesas da frente de uma confeitaria ali perto, não
fora visto, mas era melhor não correr riscos desnecessários.
A sirene havia parado
na porta de um suposto traficante, por ser peixe pequeno tinham mandado apenas
duas viaturas e cinco policiais. O garoto continua seu caminho e
inadvertidamente pisa em uma bituca ainda acesa de cigarro, preste atenção aos
pés do garoto, há uma mancha de carvão circular no calcanhar, as unhas são
grandes e sujas, mais dois passos na água e a mancha tinha diminuído, alguns
metros seus pés estavam limpos pelas poças e a mancha apagada.
Os pés andam mais
duas quadras e viram a esquerda, param então embaixo de um toldo verde, o chão
lá estava seco, o garoto observa policiais batendo na porta em frente ao toldo,
uma mão com anel aparece do lado de fora de uma janela, ela porta uma arma.
A metralhadora
dispara, o barulho faz o estômago da criança se retorcer de fome, parece
demasiado o som do carrinho da pipoca que ele ia comprar com o dinheiro
furtado!
Um projétil perverso
decide conversar com o garoto, ele é atingido na têmpora direita. Cai. Os pés
até então secos se molham de um líquido vermelho que se amontoa no chão que
momentos antes estava incólume.
O tempo passa.
Espere! Ouça, não é
o barulho de uma metralhadora onde o garoto tinha caído? Vou olhar mais de
perto, não, me engano, é só a barulho de um carrinho de pipoca comandado por um
homem calvo embaixo do toldo verde. O pipoqueiro se afasta, acende um cigarro
barato.
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